Dicas de Filme




Crianças Invisíveis - Retrato da cruel realidade na versão de diretores famosos mostram uma infância que ninguém deveria viver.
Ambientado em vários países, representa uma diversidade do mundo cruel onde crianças jamais deveriam viver. Cada diretor teve oportunidade de retratar histórias onde os protagonistas são crianças tendo que lidar com a dura realidade, onde crescer parece ser a única alternativa. Tramas diferentes com mensagens similares, visões distintas que realçam uma triste realidade nua e crua em lugares como Nápoles, São Paulo, Nova York, África e China (estas duas últimas não deixam claro o local). A concepção do filme merece aplausos. O único "porém" cabe a um problema recorrente na maioria dos filmes de episódios: a irregularidade. Kátia Lund e John Woo são os mais consistentes e imprimem seu toque e visão pessoal de forma magistral. O italiano Stefano Veneruso e o americano Spike Lee (também em cartaz com o ótimo O Plano Perfeito) não ficam atrás. Lamentavelmente, o clã Scott destoa com seu misto de devaneio e pseudopesadelo existencial. Comparar com a filmografia anterior dos diretores é sempre complicado, já que alguns não possuem uma tão vasta, mas vale destacar que John Woo mesmo fora de seu habitat prova que é genial numa história sensível de uma menina cujo sonho é estudar. Tanza, de Mehdi Charef, apresenta a situação na África, onde a guerra civil é uma constante em muitas regiões, recrutando crianças e destruindo sonhos e inocências (que também se repete na vida das crianças de outros países). Blue Gipsy, de Emir Kusturica, enfoca a vida criminal que é imposta às crianças de uma família de ciganos e a vida num centro de recuperação, onde ele acaba sendo mais protegido. São dois episódios bem dirigidos, sobre o triste mundo em que vivemos.
Bilú e João, de Kátia Lund, co-diretora de Cidade de Deus, é aquela realidade mais próxima de nós que preferimos ignorar ou que fingimos não ver. Os protagonistas, um irmão e irmã, se esforçam para tentar ter uma vida digna trabalhando noite e dia coletando material para reciclagem. Quando deveriam estar tendo outra vida.
Um episódio belo, sensível e poético, com um final congelado para recordarmos depois. Song Song & Little Mao, é a mais emocionante das históriOas, contrastando o universo de uma menina rica e triste, com a separação dos pais, e uma órfã que queria estudar.
Em diversos momentos a sensação é de impotência, reconhecendo que aquelas situações acontecem no mesmo tempo que estamos ali assistindo um filme enquanto crianças ao redor do planeta estão sendo privadas de sua infância. O fato de ampliarmos nossa consciência, já pode ser considerado um primeiro passo. Ir atrás de soluções é melhor ainda. A produção de Chiara, Veneruso e Maria Grazia Cucinotta aborda de maneira singular a infância em risco diante da criminalidade, violência, trabalho infantil, agressão física e muita irresponsabilidade dos pais. Alguns dos temas que chocam, mas mostram a realidade na telona. Uma verdade que acaba sendo igual em qualquer canto do mundo, mas que muita gente prefere fingir que não vê.

O mestre das Fugas - A temática pode parecer repetitiva, mas é facilmente transponível para nossa realidade: a criminalidade infantil.
O filme conta a história real, ocorrida no final dos anos 70, de Juan Carlos Delgado, um garoto de 11 anos que, sob o codinome "El Pera", chefiava uma gangue na periferia de Madrid, responsável por inúmeros e violentos assaltos a lojas, roubos de veículos e outros crimes.
O que muda é que este garoto, depois de apanhar de seu pai em casa, passar por reformatórios convencionais, delegacias de polícia, e morar nas ruas, dentro de veículos roubados, numa rotina de violência e drogas, finalmente chega a um reformatório diferente, com uma proposta de realmente recuperar os menores, tratando-os com respeito e dignidade.
Juan Carlos Delgado, o menor delinqüente, tornou-se piloto profissional de automobilismo (devido à sua incrível habilidade ao volante desde aquela idade), e hoje, totalmente recuperado, é jornalista de diversas publicações especializadas na área, além de prestar serviços de treinamento de direção evasiva para departamentos de polícia na Espanha.
Então proponho a difícil discussão sobre a forma de tratar os delinqüentes juvenis. Há pouco tempo, o país ficou chocado pelo crime hediondo de um menor que, ao assaltar o veículo de uma senhora, arrastou seu filho pequeno por quilômetros, matando-o a sangue frio.
"O Mestre das Fugas" até nem é um grande filme, tem diversos problemas de direção, roteiro, acabamento das cenas, mas o argumento me chamou a atenção, porque nos confronta com um grande problema que talvez não queiramos olhar de frente.
Por: Isadora Queiroz

Nenhum comentário: