As Causas da Criminalidade

Raciocine: um país onde cada habitante recebe em média US$ 3.000 por ano e produz riqueza econômica próxima à do Canadá, nação de Primeiro Mundo, deve ter índice de criminalidade muito menor do que um outro, miserável, que gera 65 vezes menos riqueza e tem renda por habitante abaixo de US$ 500?
A resposta é não. O Brasil, o primeiro país do exemplo acima, tem, proporcionalmente à população, 10 vezes mais homicídios por ano do que Gana, o país pobre.
A principal causa da criminalidade não está na pobreza em si, mas na disparidade entre ricos e pobres num mesmo lugar.
É isso que explica, segundo especialistas em segurança pública de vários países, porque a sociedade brasileira tem a maior média de homicídios do mundo, entre os países que não estão em guerra ou sofrendo com guerrilhas.
O Brasil detém também o título de campeão mundial da desigualdade social, conferido pelo Banco Mundial, que divulgou estudo no mês passado informando que, aqui, os 20% mais ricos concentram 32 vezes mais renda do que os 20% mais pobres.
Cresce a desigualdade e cresce a violência. Na Grande São Paulo, por exemplo, a taxa de homicídios anual por grupo de 100 mil habitantes aumentou 83% entre 1984 e os primeiros meses de 95.
O nível de desigualdade social é uma das poucas causas da criminalidade que podem ser quantificadas. Tabela feita pela Folha, com alguns países que possuem estatísticas sobre homicídios, demonstra que, quanto maior a desigualdade social, maior a violência.
Outros fatores, como racismo, alcoolismo, drogas, facilidade de comprar armas e o baixo índice de escolaridade também pesam e agravam o problema. Mas o fato é que as cidades mais violentas do planeta têm como característica comum a desigualdade acentuada entre ricos e pobres.
Pelas estatísticas, nos países onde não há grandes diferenças sociais, mesmo que sejam muito pobres, a criminalidade é baixa. O exemplo de Gana, localizado no oeste da África é eloqüente, com 2,1 casos de homicídio para cada 100 mil habitantes. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a média de casos de homicídios, por ano, por grupo de 100 mil habitantes, é 19,4. Este dado é de 1990. Hoje, estima-se em 21.

No Rio de Janeiro, foi 56. Nos EUA, em 93, a média de homicídios foi de 8,4. No Japão, de 1,2.
Segundo o médico e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea, Marcos Akerman, que esteve em Acra, capital de Gana, para comparar a cidade com São Paulo, "não é a pobreza absoluta que causa a violência, mas a pobreza relativa, quando um tem mais do que o outro".
É o caso do México, onde a crise econômica tem aumentado o fosso entre ricos e pobres, fazendo crescer a criminalidade.
A informação é do criminalista e professor de direito da Universidade Nacional do México, Rafael Ruiz Harrell.
"Nos dois últimos anos, temos tido uma crise severa. Em 94, cresceu 27% a delinqüência em relação a 93. Este ano, nos primeiros sete meses, a delinquência deve aumentar 50% em relação a 94, na Cidade do México", diz.

Para a professora de sociologia econômica da Faculdade de Economia e Administração da USP, Ana Maria Bianchi, "quando há riqueza e opulência convivendo com a miséria, aumenta o sentimento de privação do indivíduo, levando-o à violência".
Segundo Ana Maria, a "sociedade exige o sucesso e a ascensão de seus membros, mas não oferece oportunidades, levando as pessoas a buscarem isso de forma ilegal.

LUIS HENRIQUE AMARAL



Reflexão do texto:

A profunda deseigualdade social que existe no mundo, fruto do neoliberalismo, aumenta cada vez mais os índices de criminalidade e violência. Algumas das soluções para essa situação todos nós já conhecemos: emprego, bons salários para todos, educação e oportunindades para os jovens.Porém o tempo passa e nós percebemos que nada disso é feito e ficamos sem esperanças de conquistar no futuro uma sociedade mais igualitária e,consequentimente mais pacífica.


Por: Isadora Queiroz

2 comentários:

Eliane Salomon disse...

Um ótima análise!Concordo!Só os que tem sentimento de vingança não querem ver isto e sim apelar para a redução da maior idade penal !Redução da maioridade penal não diminui a violência. O debate está focado nos efeitos, não nas causas da violência.

Unknown disse...

Desculpe-me ma não posso concordar com isso.
Colocar a culpa da criminalidade na desigualdade social é como culpar a vítima de um estupro por ser bela, sensual.
Se a desigualdade social tem algo a ver com a criminalidade, certamente ela não é a causa. A verdadeira causa é a inveja.